terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Inferno Astral
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Separação
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Mídia
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Eternidade
A eternidade por si só é um termo que sempre achei interessante, mas apenas consegui compreendê-lo satisfatóriamente quando li a explicação sobre a eternidade divina e toda concepção do tempo escrita por Santo Agostinho.
A forma como compreendi foi através da refutação agostiniana deste questionamento temporal de Deus: antes do homem ou antes mesmo do mundo não havia antes. Deus é eterno e a grande dificuldade que temos de perceber a dimensão da eternidade é porque nossa forma de raciocinar é compreendida dentro do espaço e do tempo.
Ao contrário do que alguns argumentos cômicos e levianos possam nos induzir a falar, Deus não estava de bobeira no céu quando, por uma falta do que fazer, resolveu criar o universo e os homens. Nesta sentença inteira há um equívoco temporal, pois somos induzidos a traçar uma linha cronológica entre a elaboração e a criação.
A eternidade não é uma quantidade de tempo infinita. Ela é a ausência de tempo. A existência humana pressupõe uma limitação de espaço e tempo da qual a divina não se insere. Talvez por termos essa noção distorcida de que Deus é realmente a nossa imagem e semelhança e, portanto, acreditamos que ele possui as mesmas limitações.
O mais interessante é que, munidos deste conceito de eternidade como ausência de tempo algumas frases famosas e idéias de que temos das coisas tomam sentidos completamente diferentes. Por exemplo, a célebre "que seja eterno enquanto dure" ou o sentido que toma a expressão "vida eterna", a vida após a morte (aliás, expressão essa um tanto quanto estranha).
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Bom Gosto...
A medicina não é objeto de todos: somente o médico, aquele que estudou a medicina é que possui propriedade para falar sobre ela. Assim como somente os advogados e juristas possuem gabarito para discursar sobre as leis e afins.
Porque então o "Bom gosto" ou a "Estética" seriam um bem comum? E quem seriam os responsáveis por liderar um debate sobre um tópico considerado subjetivo? Bom, cada especialista com a sua área. Sobre a arte, temos os artistas plasticos, sobre a música, temos os músicos e compositores, sobre poesia, temos os escritores e por aí vai. A arte deve ser discutida pelos artistas e não pelas pessoas comuns.
Claro, nós temos o direito de gostar disso e daquilo. Mas cabe ao nosso bom senso confessar que nem sempre temos propriedade suficiente para dizer o que é melhor ou pior.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Pensamento sobre o Belo
Uma exemplificação disso é ouvirmos a coloquial expressão "Fulano tem bom gosto". Esta expressão nos faz entender que o sujeito em questão sabe fazer boas escolhas no âmbito estético, seja de determinado segmento como música, moda, arte, etc... Ou simplesmente de maneira geral. Dizer que alguém tem "bom gosto", significa que dentre as escolhas que aquela pessoa faz ela consegue selecionar aquelas opções que genuinamente se aproximam mais com a beleza. A perfeição.
Certo? Bom, como eu havia mencionado, a conceituação ficara um pouco aquém do esperado.
Em certa ocasião, num bar local discutia com alguns amigos o caráter sob o qual alguns músicos eram escolhidos melhores do que outros. O argumento que mais me incomodou naquele momento é que, de todos ali sentados nenhum de nós tinha qualquer noção, mínima que fosse de teoria musical, do que vem a ser música e como é feita. Nossa experiência musical resume-se aos cds que compramos e ouvimos. No entanto, estávamos todos respaldados pela máxima "gosto não se discute". Ora, não mesmo?
(to be continued)
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Censura
Passei boa parte da minha madrugada assistindo a um filme hollywoodiano, nenhum blockbuster, mas com atores renomados como Russel Crowe e Al Pacino. Chama-se "O informante", se não me engano. O filme trata, resumidamente, da censura sofrida por um jornalista e seu informante, por uma companhia de cigarros da qual eles tinham denúncias graves a fazer. A empresa pressionou a corporação que sustentava a emissora de notícias e esta, então, negou-se a transmitir a entrevista comprometedora. Eu já havia visto o filme antes, já sabia o final da história, mas gosto de rever os filmes, pois a cada vez a história parece que muda - na verdade, somos nós que mudamos.
Recentemente tive a experiência de presenciar de perto uma situação dessas. Um companheiro de trabalho, num cargo muito superior ao meu foi dispensado do serviço por uma série de atitudes incoerentes com as diretrizes da empresa. Resumindo: censura. A revolta por parte de todos que ali trabalham foi grande, não somente pelo respeito que tinhamos pelo trabalho daquele patrão, mas também por este fator incômodo: a censura. Sofremos de um certo pavor dessa herança da ditadura e, entrar em contato direto com ela foi, sem dúvida, algo difícil de engolir. Mas, que nada, uma semana depois estavam todos tranquilos. Tragados pela rotina, voltamos a cumprir nossa função no microcosmos e deixamos de lado este orgulho ferido.
O que me incomodou na verdade com o filme e com a experiência foi, na verdade, o fator surpresa e choque. Censura é uma palavra feia para algo que fazemos todos os dias: julgar.
Se você abrir na página inicial do site do Estadão, você verá uma tarja preta anunciado que há determinada quantidade de dias o jornal está sob censura. O que acontece é que um certo desembargador, com uma ação judicial, conseguiu a proibição da publicação de quaisquer matérias referentes a uma Operação Boi Barrica que, segundo o jornal, conteria informações que prejudicariam pessoas públicas (lê-se políticos).
Bom, isso é o de menos, pois se você olhar essa mesma página inicial verá outras matérias referentes ao que podemos chamar de censura: censuramos uma estudante por usar um vestido muito curto e depois censuramos a faculdade por censurá-la, censuramos um juiz por errar, censuramos uma atleta por usar um medicamento, censuramos um empresa online por ter uma comunidade que tira sarro de um piloto, enfim... censurar é tudo o que fazemos todos os dias.
O que acontece é que nossa percepção da questão é microcósmica e quando, por algum evento já citado, temos contato com essa realidade macro, nos sentimos afrontados. Mas cedemos a isso todos os dias. Somos cúmplices de todas essas ações que condenamos. Não apenas por sermos naturalmente passivos - o homem não é um ser ativo-pensante -, mas porque queremos essa falta de controle para nos sentirmos um pouco menos responsáveis.
Ah, claro, vale ressaltar. No filme, caso você não o tenha visto, o brio jornalístico vence a ditadura corporativa e a matéria acaba saindo na íntegra. Mas todos nós sabemos que a realidade é um pouco menos hollywoodiana.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Arrependimentos
Bom, eu me arrependo. Inevitável não se arrepender, por mais antirromântico que isso possa parecer. A vida nada tem de romântica. Algumas coisas simplesmente não deveriam acontecer deste jeito, mas por esbarrarem com nossas limitações não tivemos escolhas ou escolhemos errado. E, infelizmente, o tempo é implacável, ele não volta atrás e tudo que temos são frações de segundos para decidirmos se saímos com o casaco mais pesado, pois pode fazer frio ao anoitecer ou se desistimos de uma mulher formidável ou uma oportunidade de emprego para a qual não nos sentimentos preparados.
Portanto, quanta bobagem daquele que diz que nunca se arrependeu. Eu me arrependo diariamente de escolhas malfeitas. Arrepender-se é antiromantico? Bom, não arrepender-se é que é. Arrepender-se é humano e um direito.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Epíteto
É a grande falha dos sentidos: a superficialidade. Nossa limitação sensorial é conhecida, isso não é novidade. A visão, fonte de maior conhecimento, é ingênua ou, pior ainda, dissimuladora. Ela nos dispersa do tangível, da realidade que ela supostamente retrata.
"O homem não nasceu para pensar". Esta é uma frase do livro "O Lobo da Estepe", do escritor alemão Herman Hesse. Segundo ele o homem não nasceu para exercer este dom, ele o faz por acaso. Descobre a capacidade e, depois de tal facticidade, perde-se. Está condenado a viver uma vida em constante fuga ou eterno retorno à condição de ignorante, um caminho sem volta...
No entanto, iganoramos uma outra condição: o homem não só é um ser não inclinado ao pensamento, ele é ainda menos inclinado aos sentimentos. Quanto mais próximo o ser humano é conduzido à sua condição animalesca, mais próximo dela as suas ações vão se dirigir.
Nada nos deixa mais perdidos, confusos e irritados do que as vicissitudes do "coração". Tudo nos desarma menos do que a vulnerabilidade do sentir. Essa incompetência natural, ignorada por uns, retratada intencionalmente por poucos, deve-se ao fato de que somos tão animais quanto podemos ser e mais do que acreditamos ou gostaríamos.
No final das contas, só tomamos conhecimento dessas limitações quando nossa visão distorce não o horizonte, mas a nós mesmos. Uma massa amórfica de células, órgãos, água, oxigêncio, sangue, osso e sentimentos.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Ce la vie
e não vi nada.
Sentei, levantei, chorei,
rezei para um Deus...
um deus ateu.
Mas não vi nada.
Procurei entender meu desespero
e me deparei com o medo
de vir a falecer cedo.
E cedo na vida
não quer dizer exatamente novo,
pois nessas idas tudo
é carregado, não sobra nem troco.
Morrer cedo é deixar o mar navegar
sem saber onde o mar vai levar.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Pensamentos ao pé da cama
É normal. Ocasionalmente sempre encontramos aquela dificuldade para dormir. É cabeça cheia, pensamentos por demais rodeando o travesseiro, impedindo que o cérebro encontre a freqüência ideal para o descanso. Ontem eu tive uma noite dessas. As vezes o melhor que se tem a fazer é sentar a bunda na cadeira e escrever. Sim, escrever o que quer que venha na cabeça. É um exercício de esvaziamento (se é que essa palavra existe).
Sabe o que me veio na cabeça ontem? Morte.
Mas não foram pensamentos suicidas, não tenho o perfil. Acho que não tenho nem mesmo os culhões para fazer uma coisa dessas. Meu pensamento foi mais no pós-morte; não aquele ao qual a maioria está acostumada. Aliás, divagar sobre o metafísico acaba sendo muito fácil, visto que está em terreno completamente incerto e subjetivo. Provavelmente a jogada mais segura que se possa fazer, apostar no pós-morte, pois tudo é válido. Nada é proibido.
Difícil mesmo é lidar com a realidade. Essa mesma a qual nós já estamos habituados e conhecemos os limites. O que seria o pós-morte para esta realidade? Bom, me detive em uma pergunta que alguns já devem ter feitos a si mesmos, senão todos (pois o ser humano é ego puro, mesmo depois de morto): será que vão sentir minha falta? É claro que a vida continua, mas sempre esperamos que, por um breve momento, aos menos para alguns, nós tenhamos esse efeito de inércia, um hiato. Quantos nunca pensaram em seus próprios enterros? Pois nesta noite eu pensava sobre o meu e o que esperar dele. As vezes (ou melhor, quase sempre) tenho minhas dúvidas quanto à pessoa em que a cada dia me transformo. Não é segredo para ninguém que não é somente o homem que se constrói, mas o seu ambiente também tem parte fundamental na sua formação. O homem não é a apenas o resultado daquilo que ele faz, mas o resultado do que fazem dele e, principalmente, do que ele faz com o que fazem dele.
Seguindo essa linha de raciocínio, comecei a me questionar não se meu funeral estaria cheio, se as pessoas se lembrariam de mim ou se eu teria feito alguma diferença na vida das pessoas. O que mais me preocupa é o que essas pessoas carregarão de mim? Principalmente, o que meus amigos teriam a dizer? Será que meus amigos, aqueles que eu considero quase como irmãos, são capazes de me ver através das máscaras que (e sejamos francos, todos usamos máscaras, mesmo com os amigos mais íntimos) eu uso? Será que eu sou para eles aquilo pelo que eu gostaria de ser lembrado? Essa pergunta me assusta, pois não tenho certeza se tenho a resposta que gostaria de ouvir.
Pensando assim, faz perfeito sentido um dos maiores clichês da filosofia romântica (eufemismo para filosofia de banca de revista) que diz: importante não responder a pergunta do “para onde vamos?”, mas compreender, responder e (aqui acrescento minha particularidade) sermos felizes com que deixamos para trás. Impresso naqueles cuja opinião realmente nos importa.
domingo, 10 de maio de 2009
Se eu não tiver a mim, quem é que o terá?
Ninguém.
Somos um ciclo solitário. Começo, meio e fim. Brotamos da terra e a ela retornamos sem que isso permita que o mundo sofra com a nossa perda. Mesmo vivendo sob a fachada de um conceito aglutinador que é a sociedade. Ao deitarmos as cabeças nos travesseiros, somos nós e nós mesmos.
Somos nosso próprio muro das lamentações e este fardo de responsabilidade por demais parece um sobrepeso insuportável aos ombros. Então nos relacionamos. Ficamos, namoramos, fazemos amizades, estabelecemos, enfim, relações de troca com outros entes solitários.
Acontece que o fardo dos outros sempre parece estar mais leve que o nosso. Os problemas alheios são detalhes que ficaram incomunicáveis em algum processo de sinapse dos neurônios que impediu que o indivíduo enxergasse a óbvia solução. Pimenta no olho alheio é refresco. Estabelecemos, portanto, uma relação de troca entre nossos problemas. Compartilhamos.
Mas quer saber? No final das contas, passando de problemas-alheios a problemas-alheios, nos esquecemos do nosso próprio fardo ou, apenas fingimos que não é conosco. O problema é quando ele nos volta para os ombros.
O homem é solitário. Solitário e egoísta.