quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pensamentos ao pé da cama

É normal. Ocasionalmente sempre encontramos aquela dificuldade para dormir. É cabeça cheia, pensamentos por demais rodeando o travesseiro, impedindo que o cérebro encontre a freqüência ideal para o descanso. Ontem eu tive uma noite dessas. As vezes o melhor que se tem a fazer é sentar a bunda na cadeira e escrever. Sim, escrever o que quer que venha na cabeça. É um exercício de esvaziamento (se é que essa palavra existe).

Sabe o que me veio na cabeça ontem? Morte.

Mas não foram pensamentos suicidas, não tenho o perfil. Acho que não tenho nem mesmo os culhões para fazer uma coisa dessas. Meu pensamento foi mais no pós-morte; não aquele ao qual a maioria está acostumada. Aliás, divagar sobre o metafísico acaba sendo muito fácil, visto que está em terreno completamente incerto e subjetivo. Provavelmente a jogada mais segura que se possa fazer, apostar no pós-morte, pois tudo é válido. Nada é proibido.

Difícil mesmo é lidar com a realidade. Essa mesma a qual nós já estamos habituados e conhecemos os limites. O que seria o pós-morte para esta realidade? Bom, me detive em uma pergunta que alguns já devem ter feitos a si mesmos, senão todos (pois o ser humano é ego puro, mesmo depois de morto): será que vão sentir minha falta? É claro que a vida continua, mas sempre esperamos que, por um breve momento, aos menos para alguns, nós tenhamos esse efeito de inércia, um hiato. Quantos nunca pensaram em seus próprios enterros? Pois nesta noite eu pensava sobre o meu e o que esperar dele. As vezes (ou melhor, quase sempre) tenho minhas dúvidas quanto à pessoa em que a cada dia me transformo. Não é segredo para ninguém que não é somente o homem que se constrói, mas o seu ambiente também tem parte fundamental na sua formação. O homem não é a apenas o resultado daquilo que ele faz, mas o resultado do que fazem dele e, principalmente, do que ele faz com o que fazem dele.

Seguindo essa linha de raciocínio, comecei a me questionar não se meu funeral estaria cheio, se as pessoas se lembrariam de mim ou se eu teria feito alguma diferença na vida das pessoas. O que mais me preocupa é o que essas pessoas carregarão de mim? Principalmente, o que meus amigos teriam a dizer? Será que meus amigos, aqueles que eu considero quase como irmãos, são capazes de me ver através das máscaras que (e sejamos francos, todos usamos máscaras, mesmo com os amigos mais íntimos) eu uso? Será que eu sou para eles aquilo pelo que eu gostaria de ser lembrado? Essa pergunta me assusta, pois não tenho certeza se tenho a resposta que gostaria de ouvir.

Pensando assim, faz perfeito sentido um dos maiores clichês da filosofia romântica (eufemismo para filosofia de banca de revista) que diz: importante não responder a pergunta do “para onde vamos?”, mas compreender, responder e (aqui acrescento minha particularidade) sermos felizes com que deixamos para trás. Impresso naqueles cuja opinião realmente nos importa.

domingo, 10 de maio de 2009

Se eu não tiver a mim, quem é que o terá?

Se eu não tiver a mim, quem é que o terá?

Ninguém.
Somos um ciclo solitário. Começo, meio e fim. Brotamos da terra e a ela retornamos sem que isso permita que o mundo sofra com a nossa perda. Mesmo vivendo sob a fachada de um conceito aglutinador que é a sociedade. Ao deitarmos as cabeças nos travesseiros, somos nós e nós mesmos.

Somos nosso próprio muro das lamentações e este fardo de responsabilidade por demais parece um sobrepeso insuportável aos ombros. Então nos relacionamos. Ficamos, namoramos, fazemos amizades, estabelecemos, enfim, relações de troca com outros entes solitários.

Acontece que o fardo dos outros sempre parece estar mais leve que o nosso. Os problemas alheios são detalhes que ficaram incomunicáveis em algum processo de sinapse dos neurônios que impediu que o indivíduo enxergasse a óbvia solução. Pimenta no olho alheio é refresco. Estabelecemos, portanto, uma relação de troca entre nossos problemas. Compartilhamos.

Mas quer saber? No final das contas, passando de problemas-alheios a problemas-alheios, nos esquecemos do nosso próprio fardo ou, apenas fingimos que não é conosco. O problema é quando ele nos volta para os ombros.

O homem é solitário. Solitário e egoísta.