quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eternidade

Um dos questionamentos mais comuns e engraçados que já vi a respeito do criacionismo e da existência de Deus é o famoso "O que ele fazia antes de criar o mundo?". Se Deus criou o mundo, quem criou ele, afinal alguma coisa não se cria do nada, correto? Não necessariamente. Teoricamente Deus sempre existiu - digo teoricamente, pois não estou aqui defendendo a existência divina, não sou crente.

A eternidade por si só é um termo que sempre achei interessante, mas apenas consegui compreendê-lo satisfatóriamente quando li a explicação sobre a eternidade divina e toda concepção do tempo escrita por Santo Agostinho.

A forma como compreendi foi através da refutação agostiniana deste questionamento temporal de Deus: antes do homem ou antes mesmo do mundo não havia antes. Deus é eterno e a grande dificuldade que temos de perceber a dimensão da eternidade é porque nossa forma de raciocinar é compreendida dentro do espaço e do tempo.

Ao contrário do que alguns argumentos cômicos e levianos possam nos induzir a falar, Deus não estava de bobeira no céu quando, por uma falta do que fazer, resolveu criar o universo e os homens. Nesta sentença inteira há um equívoco temporal, pois somos induzidos a traçar uma linha cronológica entre a elaboração e a criação.

A eternidade não é uma quantidade de tempo infinita. Ela é a ausência de tempo. A existência humana pressupõe uma limitação de espaço e tempo da qual a divina não se insere. Talvez por termos essa noção distorcida de que Deus é realmente a nossa imagem e semelhança e, portanto, acreditamos que ele possui as mesmas limitações.

O mais interessante é que, munidos deste conceito de eternidade como ausência de tempo algumas frases famosas e idéias de que temos das coisas tomam sentidos completamente diferentes. Por exemplo, a célebre "que seja eterno enquanto dure" ou o sentido que toma a expressão "vida eterna", a vida após a morte (aliás, expressão essa um tanto quanto estranha).


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