quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Apontamentos...

As vezes sinto um desgosto imenso de ser contemporâneo desta atualidade, então olho para o passado em busca de um outro tempo que talvez pudesse me receber de braços abertos, nos quais mergulharia enternecido e satisfeito do meu lugar. Mas não encontro e não encontrando lugar no passado e no presente sinto um pesar agonizante de que o futuro não reserva melhor perspectiva.

A história da evolução do homem parece que o aproximou cada vez mais de sua animalidade. A fé que deveria nos aproximar mais de Deus acabou por selar nosso matrimônio com o terreno, fazendo chorar aquela estúpida pomba branca que criamos para nos salvar. A tecnologia avançada que conquistamos no último século era aclamada como a ferramenta que permitiria ao homem o tempo de ser mais homem e menos máquina. Bom, passada a revolução industrial, a revolução computacional e a revolução virtual e o homem não tornou-se mais homem. Pelo contrário, de máquina de geração e produção de bens, "evoluiu" para uma máquina de consumo dos mesmos. O conhecimento, cuja obtenção era tida como símbolo de liberdade e igualdade, hoje é utilizada para prender e explorar.

Nunca na história do homem, estivemos tão distantes de nos declararmos evoluídos quanto agora e amanhã estaremos mais. Mas assim como as corporações e os publicitários maqueiam tão elegantemente suas improbidades, nós, homens e marketeiros, enfeitamos nossa decadência com a modernidade. Nos vestimos, reformulamos, embalamos e rotulamos todos os dias, cada dia mais intensamente e nos afastamos - alguns consciente e outros nem tanto - daquilo que algum dia poderia ser caracterizado como ser.

Amanhã me afasto um pouco mais de mim e assim caminha toda a humanidade. Sempre caminhou. Já disse Carlos Drummond de Andrade no seu célebre "Eu, Etiqueta":

"Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente), e nisto me comprazo, tiro glória de minha anulação. [...]

Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não Eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa."

Nada mais natural, portanto, que o caráter e as ações dos homens estejam mais próximas da bestialidade do que da humanidade. Foi a isso que nos reduzimos, bestas, coisas, seres transeuntes sem personalidade, atividade e pensatividade. Nossa evolução é estúpida.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Daquilo que é vulnerável...

Todo novo amor é um precipício diante de nós. Ao longo de uma vida cometemos vários pequenos suicídios quando nos lançamos, olhos cerrados e braços abertos, a essas quedas livres. Não há retorno, não há amarras ou paraquedas que nos garanta um pouso suave em solo macio. A satisfação que encontramos nestes arroubos de insanidade são os breves momentos de felicidade que nos distraem da queda até o momento em que encontramos o solo. Então... PUM! A morte.
 
Uma parte de nós morre com o amor que nos lançou no abismo. O resto de nós ressucita e nos conduz ao limiar de uma nova queda: fechamos os olhos, abrimos os braços e saltamos. O tempo que dura a trajetória, bem como o seu custo-benefício ao findar no solo são impossíveis de se determinar.
 
Há, na história da humanidade, lendas de felizardos que lançaram-se em abismos tão extensos, de amores tão profundos, que seus corpos pereceram antes que se finda-se o precipício. No entanto não há registros que comprovem.
 
Mesmo com tanta desinformação e tanto mistério envolta desta tradição, não há uma geração de homens que tenha posto fim nesta terrível mania que temos de nos lançar, morte após morte, suicídio após suicídio, destes abismos.