quinta-feira, 11 de março de 2010


Ferreira Gullar, poeta maranhense, disse certa vez, em uma entrevista à TV cultura, que sentia inveja daqueles que tem fé, gostaria de tê-la, mas não tinha. Vez ou outra nós céticos, ateus e/ou descrentes sentimos essa invídia.

Nós não temos salvação, a morte é o ponto final, sem rodeios e escapatória. Não há consciência alternativa, vida pós-morte, reencarnação, não viramos anjos, não vamos pro céu ou pro inferno, nos deparamos com a inexorável realidade de não-ser. Voltar ao nada.

É, sem dúvida, uma constatação angustiante. Como eu, que agora penso, posso num breve instante não pensar mais? Como seria não ter consciência? Não existir? A aceitação é tumultuosa. Nossa lógica não compreende a ausência de tempo e espaço, assim como nossa moral vigente não concebe o mundo como resultante de uma evolução fisico-quimica-biológica.


É preciso acreditar em algo, torna-se quase que uma necessidade física. O homem requer uma explicação, sua complexidade exige uma razão existencial, pois não somos qualquer tipo de animal: pensamos, temos consciência de nossa existência e portanto, esta não pode ser trivial. Nossa presunção não permite que sejamos meros resultados evolutivos, um acaso do universo. 


Mas, e se formos? Se de fato a vida é tudo que temos? Bom, teremos que lidar com uma questão que, provavelmente, perturba muito mais do que a não-existência da vida a pós-morte: o que faremos, então, da vida que temos para que ela valha a pena? Sem dúvida se não fôssemos tão conformistas com relação a vida que teremos quando morrermos, não teríamos a vida que temos hoje...